A diabetes é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizada pela produção insuficiente ou pela má absorção de insulina — o hormônio responsável por regular a glicose no sangue e fornecer energia para as células. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, o Brasil registra mais de 13 milhões de pessoas convivendo com a condição, representando cerca de 6,9% da população. São Paulo e Brasília são as cidades com o maior índice de diabetes no país, onde aproximadamente 12,1% da população tem a doença, de acordo com pesquisa de 2023 do Vigitel, do Ministério da Saúde. Globalmente, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que aproximadamente 422 milhões de pessoas têm diabetes, e a doença foi responsável por 1,5 milhão de mortes em 2019.
A diabetes pode se manifestar de diferentes formas, sendo os tipos 1 e 2 os mais comuns:
Diabetes Tipo 1: Geralmente diagnosticado na infância ou adolescência, esse tipo ocorre por fatores autoimunes e exige o uso diário de insulina e/ou outros medicamentos para controle da glicose no sangue. Pessoas com parentes próximos que possuem a doença devem realizar exames regularmente.
Diabetes Tipo 2: Diretamente relacionada ao sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares inadequados, essa forma afeta principalmente adultos e envolve um processo autoimune que ataca as células do pâncreas. É o tipo mais comum e uma das principais causas de complicações de saúde associadas à diabetes.
Alguns fitocanabinoides têm sido estudados como uma terapia complementar para a diabetes, com foco no uso de canabinóides como o CBD (canabidiol) e o THCV (tetrahidrocanabivarina). Esses compostos, presentes na planta da Cannabis, possuem propriedades que podem auxiliar no controle do metabolismo glicêmico e lipídico, além de ajudar a reduzir a inflamação no pâncreas e a melhorar a sensibilidade das células à insulina. Isso permite que o organismo utilize a insulina de maneira mais eficaz, ajudando a reduzir os níveis de glicose no sangue.
O CBD, em particular, tem a capacidade de promover a transformação da gordura branca (armazenada no corpo) em gordura marrom, que é utilizada pelo organismo para gerar calor e manter a temperatura corporal. Essa transformação contribui para o controle do peso, o que pode ser benéfico para pacientes com diabetes tipo 2, já que a obesidade é um fator de risco importante.
O THCV, outro canabinoide com potencial terapêutico, também tem mostrado eficácia no controle da diabetes. Além de aumentar a sensibilidade à insulina e apresentar efeitos anti-inflamatórios, o THCV pode ajudar a controlar o apetite - e para pacientes com diabetes tipo 2, esse controle é crucial na manutenção do peso e na prevenção de complicações relacionadas à doença.
Embora o uso de canabinóides como terapia para a diabetes ainda esteja em fase de estudos, os resultados iniciais são promissores, indicando que a combinação de CBD e THCV pode oferecer uma abordagem complementar segura para o tratamento da diabetes, com potencial de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a dependência de medicamentos convencionais. À medida que mais pesquisas são realizadas, espera-se que a medicina canabinoide abra novos caminhos no cuidado e na prevenção da diabetes.
Referência
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